A CHINA E OS ZUMBIS DO PASSADO


Autor: Christopher Black - Publicado em 14/08/2019

Tradução: Equipe A Margem

Fonte: https://www.designweek.co.uk/issues/18-24-march-2019/cultural-revolution-the-exhibition-exploring-chinese-propaganda-art/


A guerra híbrida conduzida contra a China pelos EUA e seu bando de estados-fantoches entrou em uma nova fase.

A primeira etapa envolveu o deslocamento massivo de forças navais e aéreas dos EUA para o pacífico, além de provocações constantes no Mar do Sul da China e no Estreito de Taiwan. A segunda etapa foi a criação de desinformação sobre o tratamento da China com as minorias, especialmente no Tibete e na China ocidental.

Essa campanha propagandística, que choca a consciência de qualquer observador objetivo, vem sendo alavancada por nações como EUA, Canadá e Austrália, as quais possuem os piores indicadores de direitos humanos no mundo no que diz respeito a suas populações indígenas, submetidas a séculos de genocídio cultural e físico por esses governos. Estes que se recusam a proteger seus grupos minoritários de ataques físicos e discriminações mesmo com suas leis voltadas aos direitos humanos.

Não contentes com isso, a propaganda foi estendida ao desenvolvimento econômico da China, seu comércio exterior, à Organização para Cooperação de Xangai, à iniciativa Rota da Sede, a seu Banco de Desenvolvimento, além de outros empreendimentos e iniciativas comerciais, pelas quais a China é acusada de tentar controlar o mundo; uma acusação vinda do mesmo país que ameaça com embargos econômicos ou pior, com o extermínio nuclear, qualquer um, amigo ou inimigo, que resista a suas tentativas de controlar o mundo.

A quarta fase é a tentativa dos EUA de destruir a economia chinesa com “tarifas” punitivas, essencialmente um embargo aos produtos chineses. O objetivo disso não é trazer melhores acordos comerciais, mas sim prostrar a China aos joelhos, uma prova de que os efeitos negativos dessas tarifas nos consumidores, agricultores e industriais americanos são secundários diante do objetivo principal.

No último ano passou-se à quinta fase, o sequestro e a detenção ilegal de Meng Wanzhou, Diretora-Chefe de Finanças da Huawei, empresa chinesa líder em tecnologia. Isso junto a uma campanha massiva dos EUA para forçar seus fantoches a desistir de quaisquer acordos com a empresa. Meng Wanzhou continua mantida contra sua vontade no Canadá sob ordens dos EUA. Chineses vêm sendo assediados nos EUA, Austrália e Canadá.

A última fase nessa guerra híbrida é a insurreição provocada pelos EUA, Reino Unido, Canadá e o resto em Hong Kong, utilizando-se de táticas feitas para provocar a China a reprimir os manifestantes com uso da força para, assim, ampliar a propaganda anti-chinesa, ou estimulando os “manifestantes” a declarar Hong Kong independente da China e depois usar a força para apoia-los.

 Mitch McConnell, um importante senador dos EUA, implicitamente ameaçou tal cenário em uma declaração em 12 de agosto ao apontar que os EUA estão alertando a China a não reprimir os manifestantes e que, se assim o fizer, problemas virão em seguida.

Em outras palavras, os EUA estão afirmando que protegerão os bandidos de camisas negras, camisas fascistas. Essa fase é muito perigosa, como o governo chinês vem novamente apontando, devendo ser manejada com a inteligência e a força do povo chinês.

Quando a Associação de Advogados de Hong Kong se uniu aos protestos o Ocidente alegou que até mesmo os advogados estavam apoiando os manifestantes em uma tentativa de trazer justiça ao povo. Mas os líderes dessa Associação são todos advogados britânicos ou membros de escritórios localizados em Londres, como Jimmy Chan, líder da chamada “Frente dos Direitos Humanos Civis”, formada em 2002 com o objetivo de afastar Hong Kong da China; Kevin Lam, sócio de outro escritório de Londres, além de Steve Kwok e Alvin Yeung, membros do Partido Cívico Anti-China e que se encontrarão com oficiais americanos próxima semana.

Kwok reivindicou a independência de Hong Kong em outras visitas, algumas patrocinadas pelo Conselho Nacional de Segurança dos EUA e vem conclamando os EUA a acionar seu Hong Kong Policy Act, que, dentre outras coisas, determina ao presidente dos EUA que emita uma ordem para suspender o reconhecimento de Hong Kong como território à parte em assuntos comerciais. O efeito disso causaria danos ao comércio global da China já que muito de sua receita advém de Hong Kong. O Presidente pode acionar o Act se decidir que Hong Kong “não é suficientemente autônoma para justificar tratamento separado quanto à China”. 

Em linha com a reivindicação de Kwok para acionar o Act, o senador dos EUA Ted Cruz elaborou uma minuta intitulada Hong Kong Revaluation Act requisitando ao presidente que relate sobre “como a China explora Hong Kong para contornar as leis dos Estados Unidos”. 

 Mas parece que a campanha propagandística anti-chinesa não está alcançando o efeito desejado. O The New York Times publicou um artigo em 13 de agosto declarando que a “China está promovendo uma guerra de desinformação contra os manifestantes” . Oficiais consulares dos EUA foram pegos no flagra em uma reunião com lideranças dos manifestantes em um hotel em Hong Kong semana passada ; declarações flagrantes de apoio aos manifestantes vindas dos EUA, Canadá e Reino Unido, bem como tentativas de reconhecer Hong Kong como um estado independente constrangeram os serviços de inteligência dos EUA. Agora esses estão sendo forçados a rebater a versão chinesa dos fatos alegando que qualquer coisa dita pela China é desinformação.

 Os objetivos dos EUA e Reino Unido são revelados nessa declaração vinda deste artigo:
“Hong Kong, que a Grã-Bretanha devolveu ao domínio chinês em 1997, continua fora do ‘firewall’ da China e, portanto, está posta além de uma das barreiras online mais profundas do mundo. Preservar a liberdade da cidade em viver fora dos controles da (China) continental tornou-se uma das causas que agora motiva os manifestantes.”
A declaração vai de encontro à Lei Básica que expressa o acordo entre a Grã-Bretanha e a China quando aquela finalmente concordou em deixar Hong Kong. Precisamos nos atentar ao que diz a Lei Básica. Promulgada em 04 de abril de 1990, mas vigente apenas em 01 de julho de 1997, data de cessão do território à China, assim dispõe em seu preâmbulo:

Hong Kong vem sendo parte do território da China desde a antiguidade; foi ocupada pela Grã-Bretanha após a Guerra do Ópio em 1840. Em 19 de dezembro de 1984, os governos chinês e britânico assinaram uma Declaração Conjunta sobre a Questão de Hong Kong afirmando que o Governo da República Popular da China retomará o exercício da soberania sobre Hong Kong de forma efetiva em 01 de julho de 1997, assim cumprindo a longa e acalentada aspiração do povo chinês na retomada de Hong Kong.

Em apoio à unidade nacional e à integridade territorial, mantendo-se a prosperidade e estabilidade de Hong Kong, levando-se em conta sua história e realidades, a República Popular da China decidiu que após a retomada da soberania da China sobre Hong Kong, uma Região Administrativa Especial de Hong Kong será estabelecida em consonância aos dispostos no artigo 31 da Constituição da República Popular da China, e que sob o princípio de “um país, dois sistemas”, o sistema e as políticas socialistas não serão praticadas em Hong Kong. As políticas básicas da República Popular da China em relação a Hong Kong foram elaboradas pelo governo chinês na Declaração Conjunta Sino-Britânica.
 Em observância à Constituição da República Popular da China, o Congresso Nacional do Povo estabelece a Lei Básica da Região Administrativa Especial de Hong Kong, prescrevendo os sistemas a serem praticados em vistas a garantir a implementação das políticas básicas da República Popular da China em relação a Hong Kong. 

Hong Kong é uma parte da China. Esse é o fato essencial posto na Lei Básica e acordado pela Grã-Bretanha e China. É uma região administrativa da China. Não é um estado independente e nunca foi quando a Grã-Bretanha a capturou pela força e a ocupou.

 Portanto é falsa a narrativa de que os manifestantes estão tentando preservar algo que nunca existiu, isto é, a liberdade do controle da China, já que Hong Kong é submetida ao controle chinês. O fato da China permitir que Hong Kong preserve seu sistema capitalista confirma isso. O fato da China poder impor o socialismo 50 anos depois ou antes se algumas condições forem satisfeitas também confirma isso.

Os pretextos para os protestos são infundados: o primeiro, acerca da propositura de uma lei de extradição entre a China Continental e Hong Kong, a qual é similar àquelas existentes entre as províncias do Canadá e os estados dos EUA; a segunda, que a insistência da China em impor sua soberania sob o território, de alguma forma, extrapola e ameaça a autonomia limitada garantida a Hong Kong.

Alguém poderia facilmente cindir o Canadá em pedaços utilizando-se desses falsos argumentos, assim como os EUA, ou até mesmo a Grã-Bretanha à medida que Londres vê seu domínio sobre a Irlanda, País de Gales e Escócia sendo questionado por grupos nacionalistas. E nós sabemos bem que protestos violentos trarão uma rápida repressão dessas forças se os governos centrais se sentirem ameaçados, especialmente pela violência que vemos em uso pelos “camisas-negras” em Hong Kong.

Vimos o que aconteceu na Espanha quando a Catalunha tentou se separar. Os líderes do movimento estão agora no exílio. Vimos o que os EUA são capazes contra manifestantes quando dos tiros contra estudantes no Kent State em uma manifestação pacífica. Essas coisas não foram esquecidas. Sabemos como a Grã-Bretanha reagirá em face de novas tentativas de unificação da Irlanda.

A China está enfrentando ataques de diversas frentes de uma vez só e demandará a sabedoria, resistência e a força do povo chinês na defesa de sua revolução e em livrar-se da dominação colonial e imperialista, de uma vez por todas. Aqueles que carregam bandeiras britânicas e americanas nos protestos em Hong Kong revelam bem quem são. Não são o futuro da China. São a personificação viva de uma história morta e de ideias mortas. São zumbis do passado.


Christopher Black é um advogado especializado em direito penal internacional. Atualmente reside em Toronto, Canadá.     

Link original em inglês: https://journal-neo.org/2019/08/14/china-and-the-zombies-of-the-past/

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