Cinefilia!

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O Oitavo Dia (Le huitième jour)


Desde “À Espera de Um Milagre” (“The Green Mile” - 1999), dirigido por Frank Darabont e baseado no livro homônimo de Stephen King, eu não via um filme que envolvesse emotivamente o espectador, com tamanha profundidade, como “O Oitavo Dia” (1996).


Harry (Daniel Auteuil) é um típico executivo desse nefasto mundo moderno. Vive em uma desgastante rotina de trabalho. Seu cotidiano é vazio, repetitivo e  desprovido de maiores propósitos. A cegueira para os bons momentos que a vida poderia lhe proporcionar revela-se como uma de suas principais características. Tudo ia nesse norte até conhecer Georges (Pascal Duquenne), abandonado por sua família após a morte de sua mãe (la plus belle du Monde).

Ao contrário de Harry, Georges, a despeito de um sentimento de abandono e das dificuldades naturais que o cercavam, conseguia vislumbrar as grandiosas criações divinas e aproveitava-as, à sua maneira e com muita imaginação, da melhor forma.

De um lado, um ser frio, mecânico, ríspido e egocêntrico. De outro, alguém sensível, especial (tocado pela mão do Criador) e com uma aparente missão a cumprir.

O filme trata os temas amizade, família, esperança e aceitação de formas poética, emotiva e com uma sensibilidade inigualável. Mostra, ainda, que o ser humano está cercado de dádivas. E dentre elas, diga-se de passagem, se encontram outros (raros) seres humanos, dotados de dons únicos. Aproveite. Valorize. Tudo pode estar bem melhor do que imaginamos. Basta abrir os olhos.

Sob o comando do belga Jaco Van Dormael, também diretor do excelente “Senhor Ninguém” (“Mr. Nobody” - 2009), essa fantástica obra da sétima arte foi indicada ao Globo de Ouro (1997) de melhor filme em língua estrangeira. Teve uma maior repercussão no Festival de Cannes em 1996, premiando as fantásticas interpretações de Daniel Auteuil e Pascal Duquenne. Ressalto, ainda, a indicação à Palma de Ouro no mencionado festival francês.

Lançado no Brasil pela Lume Filmes (responsável pela veiculação nacional de outras obras Cult e raras). Infelizmente, não é encontrado com facilidade em lojas ou locadoras. Busquem-no. Trata-se de uma reflexão para toda a vida!

Por Carlos Nazareno
carlos--nazareno@hotmail.com




| Atualização | 30 de maio de 2011 |


"Psicose (Psycho)": o pensamento e o desconhecido

O pensamento só cabe a quem pensa. Como somos aquilo que pensamos, inexiste possibilidade de que saibam realmente quem somos nós. O comportamento do ser humano é imprevisível. A simpatia e a cordialidade exteriorizadas podem, na verdade, obscurecer uma personalidade inteiramente antagônica, mascarando, inclusive, atitudes nefastas.

A carga psicossocial do que vivemos até então faz com que sejamos quem somos no presente momento, sempre diferentes do ontem e do amanhã. E dentro dessa carga, diga-se de passagem, pode estar agregada alguma psicopatologia, nem sempre evidente à primeira vista.

Alfred Hitchcock, com inarredável maestria, partindo de um brilhante roteiro adaptado pelo Joseph Stefano, deixa tudo isso bem claro em Psicose, clássico de 1960, indicado ao Oscar em 4 categorias (atriz coadjuvante, fotografia, direção de arte e direção) e vencedor de 1 Globo de Ouro (melhor atriz coadjuvante – Janet Leigh).

Uma atitude criminosa impulsiva e comportamentos psicopatológicos que descambam para a prática delituosa, aliadas à trilha sonora do Bernard Herrmann, desencadeiam uma série de cenas aterrorizantes, envolvendo e aguçando a curiosidade do espectador. Não se sabe, ao longo do filme, o porquê daquelas atitudes. Homicídios comuns praticados por algum psicopata ou situações ligadas a surtos psicóticos, revestidas de delírios, ilusões e alucinações?

Conheçam Norman Bates (Anthony Perkins), sua mãe dominadora e a antológica cena do assassinato no chuveiro em um dos melhores filmes da história do cinema. Avaliado com a nota 8.7 pelo site The Internet Movie Data Base.


Por Carlos Nazareno Pereira de Oliveira
carlos--nazareno@hotmail.com



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"ESTAMIRA"

Por Carlos Nazareno

Confira o site do documentário aqui
Documentário com roteiro e direção de Marcos Prado, Estamira (2004) ganhou diversos prêmios em festivais de cinema, dentre eles: Ekofilm – 31º Festival Internacional de Cinema Ambiental na República Tcheca (2005); 11º Cine Eco - Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental, Serra da Estrela, Portugal (2005); 18° Reencontro de Cinema Latino-americano de Toulouse (2006); 4º Festival Internacional de Direitos Humanos de Nuremberg (2005); Festival Internacional de Havanna (2005); Festival Internacional de Documentário de Marseille (2005); Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (2004) e Festival do Rio (2004).

Foi pouco. Jamais vi um documentário tão profundo como esse.

Estamira é uma mulher idosa, nascida em 1941, portadora, segundo a medicina, de um quadro psicótico de evolução crônica, revestido de alucinações auditivas, idéias de influências e discurso místico. Trabalhou durante vinte anos no Aterro Sanitário de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, Estado do Rio de Janeiro. À primeira vista, trata-se apenas de uma pessoa portadora de grave psicopatologia com diversas espécies de delírios (grandeza, persecutório, místico, influência, dentre outros). Sofreu abusos em todas as fases de sua vida (infância, juventude e adulta). Perdeu o pai precocemente. A mãe tinha problemas psiquiátricos. Vivenciou dois casamentos sem êxito.

Contudo, analisando além dessa ótica, verificamos uma carga psicossocial repleta de sabedoria, o que foi retratado de forma espetacular pelo brilhante Marcos Prado (responsável pela produção de Tropa de Elite e sua continuação).

Ora, como não refletir, de forma intensa, acerca de pensamentos como: “Não tem mais inocente. Tem esperto ao contrário”; “Quem revelou o homem como único condicional, não ensinou trair, não ensinou humilhar, não ensinou tirar. Ensinou ajudar”; “Economizar as coisas é maravilhoso. Porque quem economiza, tem”; “A culpa é do hipócrita, mentiroso, esperto ao contrário, entendeu? Que joga a pedra e esconde a mão”?

A obra mostra o hodierno de Estamira, com depoimentos da mesma, de seus filhos e de amigos. Enfatiza o que uma vida de traumas pode implicar na mente humana, bem como, em paralelo, mostra o cotidiano de alguém que retira sua sobrevivência do lixo. E muita filosofia. Sã, diga-se de passagem. Afinal, ela é tão normal quanto todos nós. Ou mais.

A insanidade de Estamira é uma linguagem de defesa diante de um mundo muito mais louco que ela. A sua loucura é a narração de uma sabedoria torta, de uma anomalia que a salva de uma realidade, esta sim, terrivelmente insana.” (Arnaldo Jabor - cineasta e jornalista)

Confiram!

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